Textão para reclamar

Clube do Aéreo em exibição de tecido acrobático na Praça Afonso Pena, Tijuca, Rio de Janeiro.

Praça Afonso Pena, 5 de setembro de 2021, a apenas dois dias do feriado de 7 de setembro que será marcado pela expectativa sobre as manifestações golpistas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

Uma estrutura com duas tiras de tecido acrobático, onde duas pessoas fazem exercícios. Meu filho de 7 anos se interessou pela cena. Eu também. Ele perguntou se podia participar. Eu olhei em volta e perto da bandeira do Brasil vi o estandarte que dizia “Clube do Aéreo: deus, pátria, familia”.

Apesar da beleza das acrobacias, precisei dizer para meu filho “vamos, tesouro, não se misture com essa gentalha”.

Depois disso precisei exercitar minha criatividade em explicar para uma criança por que devemos evitar ficar perto de pessoas que usam palavras de ordem que já eram velhas há 60 anos, quando foram usadas para justificar o golpe militar de 1964, especialmente depois que tantos termos e símbolos foram sequestrados pelo reacionarismo.

DEUS – Porta dos Fundos já falou bastante sobre isso. A mim também espanta a fé cega dos fanáticos religiosos que conseguem viver sem se perguntar “será que o meu deus é O Verdadeiro Deus?”

PÁTRIA – John Lennon já cantava há muito tempo “Imagine there is no country”. Estamos em 2021 e esse povo ainda quer falar em pátria?

FAMILIA – adoro a idéia de família mas… A qual modelo de família estamos nos referindo mesmo? Este novo cidadão de bem, com arma real ou imaginária na mão, vestido com a bandeira do Brasil como se fosse um escudo à prova de balas e críticas, que pratica crimes de corrupçãos como as chamadas “rachadinhas”, este tipo de gente eu não quero ser, não, obrigado.

No dia seguinte àquele em que escrevi este texto, o episódio do podcast Café da Manhã da Folha de São Paulo trata exatamente do uso que o governo e seus apoiadores fazem das palavras. Chamam de tratamento precoce aquilo que não é um tratamento. Alertam para o perigo da ameaça comunista, que não existe na prática desde pelo menos a década de 1930. A expressão foi reutilizada pelos idealizadores da Marcha da Família com Deus pela Liberdade na década de 60 e agora, na juventude do século XXI, retorna à boca do povo voltou junto com a frase “E o PT, hein?”.

É a implantação da novilíngua descrita por George Orwell no livro 1984 (escrito em 1949, é sempre bom lembrar). Palavras como verdade, liberdade são utilizadas refletindo idéias bem específicas que muitas vezes não corresponde àquilo que . Quando um presidente fala “conhecereis a verdade e ela vos libertará” e impõe sigilo sobre tantas informações de atos praticados pelo governo (processo de compra da Covaxin, processo sobre a transgressão cometida pelo general Pazuello, gastos do cartão corporativo etc), é preciso entender melhor o que quer dizer a palavra verdade.

Quando ouço a palavra liberdade me lembro que nenhuma liberdade é absoluta. Assim sendo, antes de defender isto a que chamam liberdade, devemos nos perguntar quem será o detentor do poder que vai limitar a liberdade. Por enquanto nossa liberdade é regulada pela Constituição Federal de 1988, mas ela se encontra em estado de permanente ameaça de morte. Quem aponta a arma contra ela, quem ameaça rasgar suas páginas é o incompetente supremo da República, Jair Bolsonaro, aquele mesmo que defende que as pessoas tenham liberdade para de desrespeitar a lei (assinada pelo presidente) e fazer aglomerações sem máscara e sem vacina durante uma pandemia.

Eu não troco minha frágil e deprimente democracia de 30 anos por uma aventura golpista liderada por um ex-capitão do Exército condenado por terrorismo, ignorante, incompetente e corrupto. #JailBolsonaro

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