Sobre o ENEM

Como alguns milhares (será que fomos milhões, coitados de nós?) de jovens brasileiros, participei do ENEM em dezembro. O resultado saiu algum tempo depois, e não tenho vergonha de dizer: 6,87, ou qualquer coisa parecida, já que não dá para descobrir a média da mesma forma como sempre descobrimos todas as médias da vida prática. Não é simplesmente ‘(a+b+c+d)/4’. Para chegar ao resultado é preciso fazer uma viagem matemática passando por números imaginários (i), regra de três composta e função do segundo grau.

Foi, aliás, por isso que o site do MEC ficou tanto tempo fora do ar. O Ministério disse que era pelo volume de acessos, mas não. O problema é que o servidor deles (um 386 melhorado, quase um 486) não estava preparado para resolver esta equação. Emergencialmente foi comprado um QuadCore. Lógico que não houve licitação pública nem nada parecido. Não havia tempo e, ora, onde mais eles conseguiriam um preço menor do que os 17 mil reais por máquina oferecidos pela ArrudaTec? Peraê. Arruda é o sobrenome do governador do Distrito Federal? Ele não está sendo acusado de corrupção pesada? Bom, não tenho tempo de pesquisar isso agora. Quem comprou a máquina também não tinha.

Técnicos da ArrudaInstall foram enviados para instalar os equipamentos. Este serviço é uma semi-cortesia da ArrudaTech; a hora de cada um dos 5 técnicos custou apenas 5 mil reais. Foi preciso cinco rapazes (um para um dos itens do computador: teclado, mouse, monitor, gabinete e um PhD em Sistemas da Informação que cuidava de TODOS os fios) dada a complexidade da máquina.

Tão complexo foi o serviço que mesmo o dr. PhD precisava a todo momento consultar o Google, como no momento em que ele quis saber onde entravam os cabos do teclado e do mouse. Nem fato de cada cabo ter a ponta de uma cor (verde e roxo) e o gabinete ter duas entradas (uma verde e uma roxa) foi suficiente para que o doutor resolvesse o problema sem a ajuda do Oráculo Virtual.

Instalados os equipamentos, tudo rodando (depois de quatro horas em os cinco rapazes instalaram o Windows Vista Starter), as notas começaram a ser distribuídas aos alunos. E vejam que maravilha! Eu, que não estudei absolutamente NADA para a prova, tirei 6,87!

Parece pouco? A mim também pareceu. Até eu descobrir que com esta nota eu poderia fazer Letras numa faculdade particular ou Biblioteconomia (irc! – é, eu também pensei isso) na UniRio. Vejam a maravilha que é o chato ENEM: não precisa estudar. Vá, faça as coisas com um mínimo de boa vontade e tire uma nota suficiente para entrar numa universidade pública!

Pelo que me parece, o ensino está caminhando para um ponto em que as provas serão assim:

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MAN AT WORK is not a band; is a status!

Li no jornal uma declaração de Sergio Cabral sobre a necessidade de se contratar mais 20 mil policiais para o estado. Talvez seja radicalismo meu, mas não consigo pensar em segurança sem pensar em escolas. Não é muito legal passar a vida inteira tomando remédios contra a febre. A gente precisa é combater a infecção. Enquanto não houver escolas ensinando legal e dando aos mais pobres a chance de passar para uma faculdade pública, vamos continuar com déficit de policiais, presídios e tal.

Por falar em escolas, passar para faculdade pública…

Não é estranho o governo do estado te dar diploma dizendo que você concluiu o ensino médio e exigir uma prova para que você passe para o estágio seguinte da educação? Eu não tive que prestar nenhum concurso para entrar na 5ª série e não precisaria prestar para o 1° ano, também (Por sorte eu quis entrar no Instituto de Educação e passei lá os 3 melhores anos dos meus estudos). Acho um absurdo alguém ser bom o suficiente para passar de ano no 3° ano e não poder ingressar diretamente na UERJ. As contradições do sistema…

E por falar em contradições, voltemos ao primeiro aspecto:

Sergio Cabral tomou posse em janeiro de 2007 e está trabalhando para que em agosto, setembro de 2010 a situação esteja de uma forma tal que a gente pense que só ele, que está lá, vivendo a situação, vai poder resolver. Foi o que FHC fez em meados de 1998. Aquela crise que agitava o mundo, vocês lembram? A quebra das bolsas da Ásia e tal… E FHC (e a Globo) dizendo que era preciso alguém com grande experiência econômica para manter a crise fora das fronteiras brasileiras, e tal. Se aproveiando da nossa ignorância, pois não ensinavam nas escolas que, nos governos, existe uma tal de ‘equipe econômica’. Independente de o presidente ser formado em Economia, Sociologia ou ter só um segundo grau, quem ia comandar a coisa seria a ‘equipe econômica’. FHC fingiu que ela não existiria e puxou a responsabilidade para si. Agora Lula faz o inverso, posando de ‘eu queria que a coisa fosse diferente, mas a equipe econômica não deixa!’. Continuam não ensinando nada disso nas escolas e os políticos vão continuar manipulando a idéia de ‘equipe econômica’ como lhes parecer melhor. E a gente vai votando.

Um dos grandes problemas é que os governantes não estão interessados em criar um projeto para que daqui a x anos a situação esteja melhor (basta que x seja maior que 4). O interesse deles é criar um ambiente em que ele, o governante possa dizer ‘só eu posso nos livrar dessa situação; no tempo que meu concorrente vai ficar analizando a situação para tentar resolvê-la, eu vou aplicar o projeto tal, que poderia ter aplicado durante esses quatro anos, mas…’. Ah, não; esse finalzinho sincero eles não dizem.

Quem mora no Rio e presta atenção na cidade já deve ter visto que o antigo prédio do Jornal do Brasil (Av. Brasil, 500) está sendo transformado no futuro Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia. O JB saiu daquele prédio faz muito tempo, mas o Governo Federal só decidiu fazer obras ali na época da reeleição de Lula. E com certeza a obra só vai ficar pronta perto das eleições de 2010.

‘Ah, é que a obra é longa e demorada’. Uma ova! Um mês antes do Pan-2007 vários lugares de competição ainda não estavam prontos. Esse mané eleito prefeito do Rio ganhou cheque branco de Cesar Maia e pagou às empreiteiras para que as obras ocorressem 24 horas por dia, e os estádios ficaram prontinhos bem a tempo. Em várias situações do nosso país, falta a tal da ‘vontade política’. Que interesse o sr. Lula (lindo, nessa foto) teria em inaugurar um hospital agora, em janeiro de 2009?

Quando um hospital é inaugurado, ele está com todas as máquinas funcionando, algumas estão ainda dentro das caixas, a farmácia está abarrotada de remédios, os médicos e enfermeiras (ou atores, sei lá) estão sorrindo, felizes da vida… Tudo é lindo. E é preciso esperar até perto das eleições para disponibilizar esse sonho realizado para a população. Se terminarem as obras e inaugurarem agora, os doentes vão ter mais um lugar para ser atendidos, mas quando chegar na época das eleições, em vez de Lula usar as imagens do INTO novinho dizendo ‘olha o que eu fiz!’, a concorrência é que vai usar as imagens deste mesmo hospital, só que sem máquinas, com funcionários mal-encarados, filas, infiltrações, paredes descadas, dizendo ‘temos que reformar o INTO’, blá-blá-blá.

Em outra destas divagações, eu pensava sobre o fato de que precisamos pagar para ter acesso aos serviços que o estado disponibiliza, como a segurança. Se você tem dinheiro para morar na zona sul, você tem viaturas da polícia passando pela porta do seu prédio a toda hora.

Eu vou muito a Campo Grande, na zona oeste, e dificilmente vejo uma viatura por ali. Durante cerca de um ano, toda sexta e sábado eu andava aproximadamente uma hora, do West Shopping até a casa de meu pai, e só UMA vez vi um carro da polícia nesse trajeto.

Não bem o que é melhor, se não ter acesso à segurança pública ou se ter acesso e o agente ser um desses que fuzila carros com mãe e duas crianças a bordo.

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MOMENTO POÉTICO:

“Viver é foda; morrer é difícil” (Renato Russo in Vamos Fazer um Filme)

Outra coisa muito difícil está sendo escrever. Este período está sendo quase crítico. Por isso, nessa postagem,

Alguma coisa está fora da ordem, fora da Nova Ordem Mundial

Something is going out of order, out of New World Order” (Caetano Veloso in Fora de Ordem)

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Se gostarem, comentem e divulguem.

Obrigado pela atenção, boa noite e Força Sempre!